Crédito: Acervo Pessoal

Nova geração leva empreendedorismo de impacto para setor da habitação

Artemisia
4 min readMar 3, 2021

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Se antes da pandemia o tema da habitação já era urgente, hoje ele é de extrema relevância, já que contribui para melhorar a vida de pessoas que reside em condições inadequadas. A sociedade deve estar atenta para a importância de apoiar empreendedoras e empreendedores de impacto que têm desenvolvido soluções inovadoras e acessíveis relacionadas aos desafios de moradia que afligem a população mais vulnerável.

Essas iniciativas, que têm potencial para impactar positivamente a vida de muitos brasileiros em esferas e abrangências para além do teto e das quatro paredes, optam por um viés propositivo para enfrentar os problemas da moradia e suas diversas dimensões.

Como assim? Como direito humano fundamental, o morar vai além do simples acesso a uma casa. Nessa ótica, a residência interfere no acesso a serviços básicos e na relação com a cidade. As dimensões que envolvem a residência estão relacionadas tanto aos aspectos estruturais, jurídicos e financeiros, quanto aos emocionais e mais subjetivos, ou seja, os que abarcam valores afetivos e culturais.

Ao transformar positivamente a residência em um espaço dotado de segurança, dignidade e conforto, vemos um impacto transversal e positivo na vida das famílias e da sociedade. Readequar uma moradia insalubre pode ser uma faísca para a transformação social. Por esse motivo, é muito importante apoiar uma nova geração de empreendedores comprometidos com soluções para os desafios da habitação.

Para endereçar esse apoio e torná-lo tangível, o Lab Habitação: Inovação e Moradia seleciona e acelera os negócios mais promissores desenvolvidos por uma nova geração de empreendedores dispostos a combater o problema da moradia em diferentes vertentes. A iniciativa integra a coalização pela habitação liderada pela Artemisia e Gerdau em parceria com o Instituto Vedacit, Tigre e Votorantim Cimentos e apoio da Caixa, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), da Vivenda, da Habitat para a Humanidade Brasil e do Instituto Iguá.

Ao longo da jornada, em três edições, o programa já apoiou mais de 80 empreendedores, fortalecendo os negócios por meio de conteúdos práticos, recursos e conexões relevantes para que as iniciativas sejam potencializadas e possam melhorar as condições de moradia de milhares de brasileiros. Na terceira edição, as empresas que se destacaram foram Akredito, Biosaneamento, Comuta Arquitetura e Isobloco; cada uma recebeu um capital-semente de R$ 30 mil e acesso a uma metodologia intensiva e personalizada para o desenvolvimento dos negócios.

Fundada por Pedro e Mariana Boot, a Akredito atua com uma solução que limpa o nome da pessoa negativada por meio da negociação das dívidas, ou seja, com uma forma de pagamento adequada ao bolso do cliente. Hoje, a empresa — que desde a fundação, em 2017, já atendeu 180 pessoas e negociou R$ 600 mil em dívidas — possibilita ao cliente reduzir em 73% o valor da dívida.

A Biosaneamento, uma outra empresa que destaco, tem o propósito de buscar soluções descentralizadas para endereçar, em escala, o problema de saneamento básico nas áreas nas quais a população sofre com a falta de atendimento. Presidida por Luiz Fazio — que possui mais de vinte anos de experiência no ramo da construção civil –, a organização já implementou diversas soluções com infraestruturas modulares e de fácil execução em qualquer tipo de terreno, além de tratar esgoto sem adição química e gerando gás para cocção. O projeto já beneficiou mais de 500 famílias e 2.000 pessoas diretamente.

O negócio de impacto social Comuta Arquitetura — liderado por Guilherme Mazon, Mateus da Cunha Laste e Sidney Bruno e fundado em 2018 — trabalha com reformas habitacionais formatadas em pacotes subdivididos por cômodos (a contratação envolve o acompanhamento de todo o projeto). Os empreendedores utilizam o BIM — do inglês, building information modeling, ou seja, modelagem da informação da construção, no qual é possível criar, digitalmente, modelos precisos de uma construção em diferentes fases — e fazem um orçamento adequado ao cliente.

O diferencial também está presente na forma que os empreendedores veem o papel do pedreiro: como um agente fundamental nas relações com as comunidades, enxergando o potencial desses profissionais como parceiros e canais de comunicação com os clientes. Na prática, esse profissional usa o relacionamento na comunidade para apresentar o Comuta e se beneficia tendo acesso ao crédito e apoio na gestão da obra.

Por último, destaco o negócio liderado por Henrique Ramos: Isobloco. Fundada em 2017, a empresa atua com um sistema construtivo inteligente, formatado na união do concreto celular com aços longos, em conformidade com as normas técnicas. Como uma construtech de impacto, inova no setor da construção civil com um sistema construtivo modular, ecoeficiente, sustentável, salubre e econômico. A Isobloco atende desde os grandes mercados de construção civil — como construtoras — à população com vendas em varejo. O negócio tem um olhar especial para a população das classes C e D.

Em suma, é urgente lançarmos um olhar sistêmico para o problema habitacional. Os desafios que tangem às moradias insalubres — que foram evidenciados pela pandemia — são questões complexas e históricas. Para enfrentar problemas dessa magnitude, é preciso agir em colaboração e unir expertises de diferentes organizações e empresas que olham para os temas habitacionais. Apenas dessa forma é possível avançarmos na transformação necessária dentro desse setor.

Maure Pessanha é empreendedora e diretora-executiva da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.

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