Estudo aponta o papel dos negócios de impacto no avanço da inclusão produtiva no Brasil
Desenvolvedores de soluções inovadoras para endereçar parte dos problemas sociais enfrentados pela população mais vulnerável, os negócios de impacto focados em combater desafios ligados à empregabilidade e à geração de renda digna e constante têm contribuído para o avanço da agenda brasileira de Inclusão Produtiva — seja pela via do acesso ao emprego (empresas que preparam pessoas vulneráveis para o mercado de trabalho), seja pelo apoio a empreendedores de base (nano, micro e pequenos).
Essa é a tese defendida pelo estudo exploratório “Negócios de Impacto & Inclusão Produtiva — O papel do empreendedorismo social em prol da inserção de pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica no mundo do trabalho”.
O estudo — cuja metodologia fez uso de uma escuta em profundidade de especialistas da temática, empreendedores e público beneficiado — lança um olhar inovador para a missão da Inclusão Produtiva ao apontar que o dueto de intervenções propostas pelos negócios — apoiar empreendedores por necessidade (nano, micro e pequenos, que decidem abrir o próprio negócio muitas vezes por falta de oportunidades no mercado de trabalho) e preparar profissionais em busca de um emprego formal — compõe o retrato de um empreendedorismo social que tem expandido essa pauta no Brasil e contribuído com o combate às desigualdades sociais.
No pilar da empregabilidade, os negócios de impacto mapeados pelo estudo têm oferecido soluções voltadas à formação e requalificação de profissionais, além de inserção no mercado de trabalho; no suporte aos empreendedores, as ferramentas — sobretudo tecnológicas — apoiam a gestão, a eficiência e o aumento do número de clientes.
Um dos capítulos do estudo é dedicado a entender quais são os avanços nessa intersecção dos negócios de impacto e a Inclusão Produtiva; as novas demandas de atuação; as conquistas; os aprendizados; e, especialmente, as visões de futuro para que a causa avance ainda mais no Brasil e atraia múltiplos atores sociais. Essas reflexões sobre o amanhã, construídas a partir de escutas de especialistas do campo, deram origem a três recomendações que podem nortear organizações e empresas interessadas em potencializar iniciativas de geração de emprego e renda digna.
#1 | A primeira recomendação é voltar o olhar para economias promissoras. Na análise dos especialistas ouvidos, novos mercados vão gerar muitos postos de trabalho que, hoje, estão subaproveitados. O destaque são as Economias Prateada/Longevidade, dos Cuidados, Verde, Criativa e Digital (com todo o potencial da inteligência artificial).
#2 | Na recomendação número dois, o foco é explorar iniciativas de letramento digital, educação financeira e apoio a microempreendedores. O país demanda ações que resolvam essa lacuna de conhecimento e, de acordo com a análise, o fomento à formalização de empreendedores é essencial para garantir assistência social atrelada à inclusão produtiva. Esse é um passo importante para que os empreendedores mais vulneráveis possam trabalhar dentro de uma lógica de proteção social, oportunidade digna, perene e estável.
#3 | A terceira recomendação se refere ao apoio educacional por meio de novos arranjos financeiros. Tendência, o financiamento educacional dialoga com iniciativas centradas em qualificação de profissionais para a empregabilidade. Chamado Income Share Agreement (ISA), trata-se de uma estrutura de financiamento de sucesso compartilhado: a instituição de ensino provê a educação/qualificação profissional, e o aluno paga o custo com uma porcentagem fixa da renda conquistada somente após os estudos serem concluídos.
Em um país no qual as melhores oportunidades de trabalho dependem da qualificação — que tem, muitas vezes, um custo inacessível para a população mais vulnerável –, esse modelo é bastante bem-vindo e tem potencial de crescer nos próximos anos, podendo, inclusive, dar suporte educacional aos nano, micro e pequenos empreendedores. Entre os exemplos de negócios de impacto mais promissores que usam ISA estão a Provi (que oferece financiamento estudantil para ampliar o acesso à educação) e a Resilia (que capacita profissionais de tecnologia para o mercado de trabalho).
Por último, a quarta visão fala da necessidade de impulsionar a associação do termo ao universo de empreendedorismo de impacto, unindo as agendas de ambos — sobretudo, quando falamos de soluções focadas em empregabilidade, capacitação profissional e apoio a microempreendedores.
Para saber mais sobre o tema, recomendo a leitura do estudo exploratório Inclusão Produtiva e Negócios de Impacto. O download é gratuito e pode ser feito no link.
* Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil. Texto original publicado no Blog do Empreendedor do Estadão PME.